Friday, November 30, 2007

O Corpo entre nós


Ouvi dizer que ‘o que tem que ser’ tem muita força! É verdade! Mas, confesso que não aceitei esta condição no primeiro momento, a minha indagação do ‘porque têm que ser assim’ me custou lágrimas e noites em claro. Cansado e com as mãos em prece, me curvei diante da condição de co-criador da minha própria vida e reconheci a presença do Grande Criador. Decidi então, junto ao Criador, abdicar por um instante desta condição e ser apenas um mero observador de mim. E foi assistindo aos meus impulsos, às freqüências que me sintonizavam a Tudo que compreendi a existência de um terceiro plano, um corpo entre nós, o EU-ELA que nasce quando ‘tem que ser’.

Experenciei o EU-ELA como se estivesse atravessando um portal; o tempo parou, o mundo parou, a vida parou. O corpo entre nós, a conexão do EU com ELA, calor intenso, energia que colore o mundo, que conduz para o não sei onde e nos faz experimentar a extraordinária e quase insuportável sensação de transcendência ao toque, me foi revelado quando permiti ser conduzido pelo meu EU co-criador. Compreendi que ser co-criador é o que ‘tem que ser ‘.

E assim, me foi concedido perceber que o meu EU busca insistente e apaixonadamente se aproximar do EU-ELA, do corpo entre nós, do sentimento que une, que transcende, que faz com que o meu corpo queira tocar, abraçar, se entrelaçar, fundir-se ao dela. A imensa vontade de estar no mesmo espaço do corpo entre nós faz com que os dois corpos físicos se unam apaixonadamente, se movam incessantemente, ardam de calor, suspiram e gemem ofegantes, e por não conseguirem obter o suficiente um do outro, aproximam-se ainda, mais, mais, e mais... os corpos explodem, literalmente, a vibração é sentida nas pontas dos dedos, os poros se dilatam, um fluxo de energia expande a aura e um grande gemido anuncia o nirvana. Eu, Ela e o EU-ELA agora somos UM, na carne. Dessa unicidade eu conheci o Tudo e o Nada, o Alfa e o Ômega, a essência da vida, o meu Criador.

Sei que um dia ainda hei de criar, a partir dessa experiência, o EU-ELA em forma física, o corpo entre nós que se tornará carne da minha carne, sangue do meu sangue, o corpo entre nós em vida!... e neste momento irei agradecer, diante do Grande Criador, a minha condição de co-criador. Seja como for, já é!

Tuesday, October 23, 2007

A contemplar o ciclo


Os homens percebem a vida assim: uma linha reta que sai de não sei onde para não sei quando..... Não! A vida não é uma linha reta, mas cíclica. O tempo é cíclico, as estações são ciclos, o ciclo do dia e da noite, o nascer e o morrer, enfim, tudo se move assim, em ciclos, por isso está escrito: “Para tudo há uma estação”. Nós homens (digo os machos), não somos capazes de perceber a vida assim, o nosso ciclo é largo, dura uma vida inteira para completá-lo, por isso vemos tudo como uma linha reta que sai de não sei onde para não sei quando. E elas? Elas (digo as fêmeas) conhecem o ciclo da vida, do tempo, experenciam o ciclo do próprio corpo, elas são o próprio ciclo.

Obviamente não estou me referindo a um ser superior ou inferior, mas ao aspecto “ser mulher”, que não é mais perfeito ou melhor do que o “ser homem”. Os homens incorporam outros aspectos da divindade que as mulheres vêem com igual inveja, e ambos os aspectos são simplesmente e maravilhosamente isso: aspectos.

Contudo, devo assumir que ser homem é ser a minha própria provação, pois enquanto eu não sofrer o suficiente com a minha tolice, não infligir suficiente sofrimento com as bobagens que crio, não magoar os outros o suficiente para mudar os meus comportamentos, não substituir a agressão por razão, a compaixão por desprezo, o ‘ninguem-perder’ por ‘ganhar-sempre’, não poderei conhecer a vida em ciclo, não compreenderei jamais o ser mulher.

Mas Deus foi generoso e nos permitiu apreciar, desejar e amar esse outro ser, nos permitiu copular e compartilhar com a vida, a ser desejado e amado por ela(s). Por isso, sejam quantas vidas ou ciclos eu tiver, seja qual for a evolução que eu conquistar, peço a Deus que me faça sempre homem, para que eu possa viver a contemplar uma mulher.


Wednesday, September 12, 2007

Prazer em te conhecer, Jota-Pê!

Mais uma vez, como sempre, o universo conspirou a favor: uma viagem inusitada para Alemanha em companhia de Jota-Pê, um cara que eu não conhecia!

O feriado de 7 de setembro seria um dos momentos raros para adiantar o doutorado. Jota-Pê, de coração, pediu que eu o acompanhasse até Frankfurt, Alemanha, nos quatro dias do feriado. As minhas condições: um laptop para continuar o doutorado. Funcionou bem, até a primeira hora. O computador apagou e não mais voltou.

As 14 horas de viagem foram ótimas, sem filas, sem check-ins, transfer exclusivo, serviço de bordo self-service, free-pass para cabine, parada em Dakar com direito a pisar em solo senegalês sem passar pela imigração africana, amizade com todos os passageiros do vôo, lotado na sua capacidade máxima: 6 pessoas - Comandante Edson e Comandante Toledo, os co-pilotos Alexandre Berti e Rodrigo Mendes, Jota-Pê e eu – todos nós agrupados entre a cabine e uma sala de descanso do gigante MD 11 da Varig Log Cargas.

Frankfurt é grande, limpa, organizada, alemã! Mainz é pequena, limpa, organizada, alemã. Wiesbaden é grande, industrializada, capital de Hessen, estado federal alemão. Os alemães são alemães, olhos claros, cabelos amarelos, acento rígido, beleza nórdica um tanto distante mas não menos fascinante para nós, no caso, Jota-Pê e eu.



Muitos kms de caminhada pela cidade, muitas fotos desautorizadas das galegas, Danke schön por cada salsicha com mostarda, igrejas medievais, edifícios espelhados que lembravam os transformers, cerveja quente incorpada mas não azeda, o clima e temperatura que parecia desconhecer o time continuun, e o Jota-Pê e eu andando para onde apontava o nariz.

Uma nota: Nós, Jota-Pê e eu, para eles, os alemães, devemos ser mesmos diferentes: fomos impedidos de entrar em duas baladas. Mas porquê? Foi o tênis comprado na Alemanha? A jaqueta jeans igual a de todos? O cabelo sem gel, mas com modelador? O inglês com sotaque? Seja como for, na certeza de que iríamos reverter essa situação, acabamos chegando numa torre de babel chamada Gagos. Lá estavam turcos(as), italianos(as), alemães(ãs), croatas(?), Jota-Pê e eu. A música, um tipo de ‘tum-tiz-tum’ hindu, deu conta do recado. Em 10 minutos, nós, Jota-Pê e eu, conversávamos em port-italian-inglês com dois italianos, três alemãs e uma brasileira de Matão, interior de São Paulo. Vai ver que foi por isso fomos barrados: não se briga com galo do terreiro.

E por lá estava eu com o Jota-Pê, uma peça rara, título de composição no disco do MC4+, irmão de sangue, um cara que eu não conhecia, fazendo de tão poucos dias um momento nas nossas vidas. Seja como for, já é!



Thursday, August 09, 2007

'Melhor' pra quê?



Quando perco tempo tentando descobrir o que é 'melhor' pra mim, chego sempre à mesma conclusão: estou perdendo tempo! Se o momento for de decisão, saio de cena (consciência) e permito que o meu ser criador de realidades e experiências, o EU que não me é tão familiar, assuma. É a manifestação do triunvirato: o coração (alma) informa, a mente ordena, o corpo atua - sincronicidade com o Todo! Seja como for, já é!

Sunday, August 05, 2007

Qual é a onda?


A todo momento a pergunta: 'qual é a onda do MC4(?)'. No Brasil soa jazz; na estranginávia soa 'fresh'. E o mestre escreveu:


"Música brasileira deve siginificar toda música nacional como criação, quer tenha quer não caráter étnico" Mário de Andrade


Thanks, man!

Wednesday, August 01, 2007

Ericeira que não conheci...

O ticket da TAP indicava saída de São Paulo às 17:00hs, com chegada em Milão às 11:00hs da manhã, horário local, com conexão em Lisboa. O destino final, Siena, ainda estava a 4 horas de carro de Milão. Desde a saída até a chegada, o universo parece ter conspirado a meu favor: apagão aéreo no Brasil, perdemos a conexão em Lisboa; apagão aéreo em Portugal, cancelamento da próxima conexão; horas ociosas no aeroporto, passeio pela cidade lusitana!

Lisboa é uma cidade linda, me senti como se estivesse visitando a casa dos meus ancestrais. O taxista acolhedor e muito entusiasmado nos levou a conhecer a primeira maravilha de Portugal: o pastel de Belém! Depois o Monasteiro dos Jerônimos, Convento do Carmo, Castelo de São Jorge, a Baixa Pombalina, e finalmente o Aeroporto da Portela. Lá estávamos mais uma vez à espera da conexão.

A caminho da confusão (foi nesta hora que soubemos do cancelamento), em meio a desavenças e contrariações, num cenário de muita animosidade e muito pouca amistosidade, eu avistei, como uma imagem que se congela no pensamento, a segunda maravilha de Portugal: Rita, uma executiva surfista lisboeta que gosta de jazz! Estava a caminho de Capri, conexão Milão. A interminável espera na fila das não resoluções dos nossos problemas nos trouxe ao ‘Oi’! Pois, cá estava eu, a falar com uma alfacinha de pele dourada de sol, a me recordar um sotaque familiar, e a olhar além do fronte. Nestas horas, os problemas são os que mais desejamos, mas estes também tem a sua hora. Conexão acertada, destino Siena. E assim fomos!

Contudo, o universo me proporcionou saber sobre a existência de Ericeira, um lugar de luz, mar azul e ondas fortes, que acredito ser a terceira maravilha de Portugal. É neste paraíso que a lisboeta de pele dourada, andar despojado e cabelos rebeldes se faz luz aos olhos dos marujos que por lá navegam. E foi assim, no mar de Ericeira que não conheci, que Deus espelhou o céu.



Brunello de Montalcino

Numa tarde de julho, sob o sol da Toscana, dentro da Fortezza de Montalcino, numa simples e aconchegante enoteca, eu experenciei a lenda Brunello de Montalcino. Senti um grande prazer ao degustar batalhas, crenças, gerações, o passado de onde viemos, a própria humanidade numa única taça de vinho. Como posso ter sentido nostalgia de um lugar onde nunca estive antes. Ou já estive? Seja como for, a lenda existe!




Saturday, July 28, 2007

Colagens, por mim...


Este disco reflete um momento, uma passagem, reflexões e experiências vividas no período da concepção deste trabalho. Concebê-lo foi fácil porque já estava pronto, mas expressá-lo custou-me tudo. A busca alucinada por externar minhas percepções do Todo através da forma de arte escolhida tem sido minha labuta. A oportunidade de compartilhá-las com o ouvinte através da apreciação de minha música é a recompensa.

Colagens, o meu primeiro trabalho autoral, não se refere a uma mera reunião de composições desconexas ou aglomeração de idéias, mas uma reversão nos modos de percepção do trabalho por inteiro que, na minha opinião, é o princípio da verdadeira unidade sonora. Trata-se de um trabalho musical brasileiro contemporâneo, de sonoridade moderna, onde se destacam as composições originais e as improvisações coletivas. As composições são uma simbiose de várias influências e conceitos musicais e não-musicais que abrangem desde as experimentações modais de Ron Miller às polirritmias de José Eduardo Gramani, além das minhas impressões sobre os poemas de Gonçalves Dias, imagens e colagens do artista plástico Tide Hellmeister, a espiritualidade de John Coltrane, e coisas simples de todo dia.

O MC4+ surgiu no momento em que o conceito sonoro se configurou. A unidade sonora do grupo está calcada na peculiaridade de cada um do grupo, e sobre eles eu gostaria de dizer: A criatividade e riqueza de texturas na condução do Carlos Ezequiel permitiram o abuso dos contrastes. O vigor e a precisão do Guto Brambilla na condução rítmica da linha do baixo foram essenciais para a linearidade das polirritmias. A forma como o Lupa Santiago valoriza as cores das tensões e desenvolve os motivos melódicos foi vital para que ele assumisse o papel de aglutinador dos extremos, o fio condutor para a performance das composições. A incrível sensibilidade musical do Vincent Gardner e do Paulinho Malheiros beira o espanto. Sempre atentos, eles responderam, sugeriram, intervieram, agregaram e também souberam se calar para que o silêncio deles pudesse ser percebido. Eles protagonizaram o papel de conselheiros durante as improvisações coletivas e o de reis durante as interpretações das composições. Quanto a mim, basta dizer que me senti como se compartilhasse a mesa destes grandes músicos, saudando a alegria de vê-los festejar o banquete servido pelo anfitrião.

Em suma, creio que o aprendizado sempre foi uma constante. Aprender como aprender tornou-se uma concepção de vida. Hoje sou um bom aprendiz. Amanhã serei melhor. O equilíbrio entre o empírico e o acadêmico ainda é um dilema, mas hei de resolvê-lo sem torná-lo uma patente. Assim, encontrarei meu próprio caminho, minha voz, a verdade musical que seguirei até esgotar as possibilidades, concepção esta que aprendi com os mestres John Coltrane e José Eduardo Gramani. Hoje penso assim, amanhã posso deixá-lo, mas sigo os meus instintos que desde sempre me conduziram.

Prazer em me conhecer...


Hoje eu me sinto assim, me estranhando ao me encontrar. Mas é só!! Não sei se sou o EU que me faz ficar confuso ou se me faço confuso tentando entender o EU..? Seja como for, já é...!!