Saturday, July 28, 2007

Colagens, por mim...


Este disco reflete um momento, uma passagem, reflexões e experiências vividas no período da concepção deste trabalho. Concebê-lo foi fácil porque já estava pronto, mas expressá-lo custou-me tudo. A busca alucinada por externar minhas percepções do Todo através da forma de arte escolhida tem sido minha labuta. A oportunidade de compartilhá-las com o ouvinte através da apreciação de minha música é a recompensa.

Colagens, o meu primeiro trabalho autoral, não se refere a uma mera reunião de composições desconexas ou aglomeração de idéias, mas uma reversão nos modos de percepção do trabalho por inteiro que, na minha opinião, é o princípio da verdadeira unidade sonora. Trata-se de um trabalho musical brasileiro contemporâneo, de sonoridade moderna, onde se destacam as composições originais e as improvisações coletivas. As composições são uma simbiose de várias influências e conceitos musicais e não-musicais que abrangem desde as experimentações modais de Ron Miller às polirritmias de José Eduardo Gramani, além das minhas impressões sobre os poemas de Gonçalves Dias, imagens e colagens do artista plástico Tide Hellmeister, a espiritualidade de John Coltrane, e coisas simples de todo dia.

O MC4+ surgiu no momento em que o conceito sonoro se configurou. A unidade sonora do grupo está calcada na peculiaridade de cada um do grupo, e sobre eles eu gostaria de dizer: A criatividade e riqueza de texturas na condução do Carlos Ezequiel permitiram o abuso dos contrastes. O vigor e a precisão do Guto Brambilla na condução rítmica da linha do baixo foram essenciais para a linearidade das polirritmias. A forma como o Lupa Santiago valoriza as cores das tensões e desenvolve os motivos melódicos foi vital para que ele assumisse o papel de aglutinador dos extremos, o fio condutor para a performance das composições. A incrível sensibilidade musical do Vincent Gardner e do Paulinho Malheiros beira o espanto. Sempre atentos, eles responderam, sugeriram, intervieram, agregaram e também souberam se calar para que o silêncio deles pudesse ser percebido. Eles protagonizaram o papel de conselheiros durante as improvisações coletivas e o de reis durante as interpretações das composições. Quanto a mim, basta dizer que me senti como se compartilhasse a mesa destes grandes músicos, saudando a alegria de vê-los festejar o banquete servido pelo anfitrião.

Em suma, creio que o aprendizado sempre foi uma constante. Aprender como aprender tornou-se uma concepção de vida. Hoje sou um bom aprendiz. Amanhã serei melhor. O equilíbrio entre o empírico e o acadêmico ainda é um dilema, mas hei de resolvê-lo sem torná-lo uma patente. Assim, encontrarei meu próprio caminho, minha voz, a verdade musical que seguirei até esgotar as possibilidades, concepção esta que aprendi com os mestres John Coltrane e José Eduardo Gramani. Hoje penso assim, amanhã posso deixá-lo, mas sigo os meus instintos que desde sempre me conduziram.

1 Comments:

At 12:04 PM, Blogger John Lester said...

Marcelo, estamos preparando uma resenha sobre seu álbum. Aliás, um excelente álbum.

Em breve, no Jazzseen.

 

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